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Declaração de abertura de Ferencz em Nuremberg

Benjamin B. Ferencz - Setembro 1947
Benjamin B. Ferencz - Setembro 1947

SR. FERENCZ: "Com a permissão de Vossas Excelências, é com pesar e esperança que aqui divulgamos o massacre deliberado de mais de um milhão de homens, mulheres e crianças inocentes e indefesos. Este foi o trágico cumprimento de um programa de intolerância e arrogância. A vingança não é nosso objetivo, nem buscamos apenas uma retribuição justa. Solicitamos a esta Corte que confirme, por meio de ação penal internacional, o direito do homem de viver em paz e dignidade, independentemente de sua raça ou credo. O caso que apresentamos é um apelo da humanidade à lei.


Estabeleceremos, sem sombra de dúvida, fatos que, antes da década sombria do Terceiro Reich, teriam parecido inacreditáveis. Os réus eram comandantes e oficiais de grupos especiais da SS, conhecidos como Einsatzgruppen, estabelecidos com o propósito específico de massacrar seres humanos por serem judeus ou por serem, por algum outro motivo, considerados povos inferiores. Cada um dos réus no banco dos réus ocupava um cargo de responsabilidade ou comando em uma unidade de extermínio. Cada um assumia o direito de decidir o destino dos homens, e a morte era o resultado pretendido de seu poder e desprezo. Seus próprios relatórios mostrarão que o massacre cometido por esses réus foi ditado, não por necessidade militar, mas por aquela suprema perversão do pensamento, a teoria nazista da raça superior. Mostraremos que esses atos de homens uniformizados foram a execução metódica de planos de longo prazo para destruir grupos étnicos, nacionais, políticos e religiosos que eram condenados na mentalidade nazista. O genocídio, o extermínio de categorias inteiras de seres humanos, foi um dos principais instrumentos da doutrina nazista. Mesmo antes da guerra, os campos de concentração do Terceiro Reich já haviam testemunhado muitos assassinatos inspirados por essas ideias. Durante os primeiros meses da guerra, o regime nazista expandiu seus planos de genocídio e ampliou os meios para executá-los. Após a invasão alemã da Polônia, surgiram campos de extermínio como Auschwitz e Maidanek. Na primavera de 1941, em vista do iminente ataque à União Soviética, os Einsatzgruppen foram criados como unidades militares, mas não para lutar como soldados. Eles foram organizados para o assassinato. Antes do ataque à Rússia, os Einsatzgruppen receberam ordens de destruir a vida atrás das linhas de combate. Não toda a vida, com certeza. Eles deveriam destruir todos aqueles denominados judeus, oficiais políticos, ciganos e aqueles outros milhares chamados de "associais" pelo autoproclamado super-homem nazista. Esta era a nova "Kultur" alemã. Unidades de Einsatz que entravam em uma cidade ou vila ordenavam que todos os judeus fossem registrados. Eles eram forçados a usar a Estrela de Davi sob ameaça de morte. Todos foram então reunidos com suas famílias para serem "reassentados" sob a supervisão nazista. Nos arredores de cada cidade, havia uma vala, onde um esquadrão de homens da Einsatz aguardava suas vítimas. Famílias inteiras se ajoelhavam ou ficavam em pé perto da vala para enfrentar uma saraivada mortal de fogo.


As unidades Einsatz foram para os campos de prisioneiros de guerra, selecionando homens para extermínio, negando-lhes o direito de viver.


Civis indefesos eram convenientemente rotulados de "Partisans" ou "simpatizantes dos Partisans" e então executados. Nos hospitais e asilos, os Einsatzgruppen destruíam os doentes e insanos, pois "comedores inúteis" jamais poderiam servir ao Terceiro Reich.

Depois vieram os caminhões de gás, veículos que podiam receber seres humanos vivos e descarregar cadáveres. Cada Einsatzgruppe tinha sua cota desses vagões da morte.

Em resumo, essas foram as atividades dos Einsatzgruppen. Os Estados Unidos, em 1942, juntaram-se a 11 nações na condenação desses massacres nazistas e juraram que a justiça seria feita. Aqui, agimos para cumprir essa promessa, mas não sozinhos por causa dela.

A Alemanha é uma terra de ruínas, ocupada por tropas estrangeiras, com a economia debilitada e o povo faminto. A maioria dos alemães ainda desconhece os eventos detalhados que relataremos. Eles precisam compreender que essas coisas ocorreram para compreenderem um pouco as causas de sua situação atual. Depositaram sua fé em Hitler e sua esperança em seu regime. A ideologia nazista, desprovida de humanismo e fundada em um materialismo implacável, foi proclamada em toda a Alemanha e era conhecida por todos os alemães. Hitler e outros líderes nazistas não esconderam seu propósito de destruir os judeus. Ao registrarmos aqui o massacre de milhares de crianças indefesas, o povo alemão pode refletir sobre isso para avaliar os méritos do sistema que aclamou com tanto entusiasmo. Se se envergonharem da insensatez de sua escolha, ainda poderão encontrar um verdadeiro ideal no lugar de um fetiche imundo. A prova de um milhão de assassinatos não será o aspecto mais significativo deste caso. Acusamos mais do que assassinato, pois não podemos fechar os olhos a um fato sinistro e cheio de presságios para toda a humanidade. Desde que os homens abandonaram as lealdades tribais, nenhum Estado desafiou o direito de povos inteiros à existência. E desde a Idade Média, nenhum governo marcou homens para a morte por causa de raça ou fé. Agora vem esse recrudescimento — essa doutrina nazista de uma raça superior — uma arrogância mesclada de vaidade tribal e um desprezo sem limites pelo próprio homem. É uma ideia cuja tolerância põe em perigo todos os homens. É, como já denunciamos, um crime contra a humanidade.

A consciência da humanidade é o fundamento de todo direito. Buscamos aqui um julgamento que expresse essa consciência e reafirme perante a lei os direitos básicos do homem."



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